Vivemos tempos obscuros onde a ética precisa ser colocada acima de tudo e na frente de qualquer ação. Precisamos ter ética e responsabilidade aos nos comunicarmos, seja com nichos específicos ou mesmo com toda a população. Vemos, ouvimos e assistimos à verborragia do principal mandatário da nação, sem se preocupar com a liturgia do cargo, as consequências das palavras e com a ética na comunicação.
O livro ‘O Médico e o Jornalista – afinal a imprensa não é nenhum monstro’ – uma publicação da DOC Content, que tive o prazer de escrever, juntamente com o também jornalista Cacá Amadei, traz um capítulo inteiro dedicado à Ética na comunicação. Desde sempre, no exercício da profissão, me preocupei com questões éticas e na promoção dessa temática, e quando passei a ser consultor e assessor de imprensa também reforcei esses princípios aos clientes e nas consultorias realizadas, palestras e bate-papos.
Como a comunicação é um reflexo de atitudes conjuntas de uma pessoa, empresa, clínica ou consultório, o capítulo do livro é na verdade um ensaio sobre a própria vida. Lá deixamos claro que não é possível ser ético apenas ao comunicar. A Ética tem que estar em todos os processos e a Comunicação será apenas consequência. Naquela edição de ‘O Médico e o Jornalista’, onde tratamos da Ética, convidamos a psicóloga Deborah Bretas, que é uma estudiosa em Comunicação, para auxiliar em uma compreensão mais ampla do tema. “A Ética é o exercício individual de reflexão sobre os conteúdos morais codificados por uma certa sociedade, num dado momento histórico. Ela pressupõe a sustentação da vida em comunidade”, contextualizou Deborah Bretas para nos esclarecer.
A especialista foi ainda além: “em última instância, a Ética busca reconhecer quais aspectos de uma dada moralidade favorecem a sustentação do que chamamos a vida humana e os que a ameaçam. Reconhece a alteridade como base da vida social. O ‘Eu’ e ‘Outro’ e a sua interdependência. Podemos entender que o ser humano é basicamente dependente. Estabelece relações com o mundo além de sua individualidade. Precisa do ar, da água, do alimento e da influência do outro para edificar e sustentar aquilo que chamamos de vida humana. Nesta compreensão surge o sentido de alteridade. ‘Eu’ e o ‘Outro’. Emerge o campo das relações, onde se estabelece a necessidade da reflexão ética: daquilo que devo, posso e quero fazer e daquilo que não devo, não posso e não quero fazer. Comunicar com Ética é praticar esta reflexão todos os dias”.
A Comunicação Ética é consequência de todo um processo global e não um ato isolado. Caso contrário será um discurso vazio, um ato forjado que, em algum momento, será desnudado. Um bom exemplo é o Instituto Ética Saúde, idealizado pela Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde – ABRAIDI – e pelo Instituto Ethos, que tornou-se um divisor de águas, inicialmente no mercado de Dispositivos Médicos Implantáveis, e hoje é uma referência em todo o segmento da saúde.
O Instituto Ética Saúde é o maior exemplo de que é possível fazer diferente e que é insustentável, nesses novos tempos, agir de forma diversa. Não é por acaso que até as pequenas empresas do setor de saúde têm estruturado departamentos de compliance e vêm buscando as relações éticas nos negócios.
A Ética não pode ser um discurso, caso contrário cairá como em um castelo de cartas. Não faltam exemplos para olharmos em todos os setores da sociedade que se apropriaram do discurso ético, mas na prática agiam ou ainda agem na escuridão.
Como escreveu o filósofo alemão Immanuel Kant: “tudo o que não puder contar como o fez, não faça!”. É evidente que o filósofo não está falando contra a privacidade, mas em relação a algo que fazendo causará vergonha, que é antiético. Ético é ser ético. Cinco letras apenas, mas que fazem todo o sentido nas atitudes e não somente nas palavras.
Voltando ao artigo que encerra o livro ‘O Médico e o Jornalista’, cito Bob Marley que, de forma conclusiva, um dia disse: “são as atitudes e não as circunstâncias que determinam o valor de cada um. O que você diz, com todo o respeito, é apenas o que você diz”. Precisamos ter atitudes, mas dando passos equilibrados e com cautela, afinal “canja de galinha não faz mal a ninguém”, certo Sr. Presidente?
José Roberto Luchetti é jornalista, escritor e sócio da DOC Press. Trabalhou nas emissoras Globo, Band e Rede Mulher, além da rádio Eldorado (atual rádio Estadão).